Níveis de capacidade tecnológica em empresas latecomers: da adaptação à fronteira tecnológica

Na trajetória do desenvolvimento tecnológico de empresas situadas em economias emergentes, o conceito de “empresas latecomers” ocupa posição central. São organizações que ingressam tardiamente em setores industriais e tecnológicos já consolidados globalmente. No entanto, isso não significa que estejam condenadas à dependência perpétua. Ao contrário, ao compreender os diferentes níveis de capacidade tecnológica, essas empresas podem estruturar estratégias para escalar sua sofisticação tecnológica e competitividade.

Neste artigo, abordamos quatro níveis crescentes de capacidade tecnológica em empresas latecomers, conforme sistematizado por Paulo Figueiredo¹, e refletimos sobre seus desdobramentos práticos na gestão da inovação empresarial.

1. Capacidade de Produção

No nível mais básico, a empresa detém apenas a capacidade de operar tecnologias desenvolvidas externamente, muitas vezes sem compreendê-las plenamente. Sua atuação está restrita à reprodução de rotinas produtivas estabelecidas, com foco em eficiência operacional e padronização. Há pouco ou nenhum envolvimento em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e, por isso, sua competitividade está atrelada a fatores como custo de produção, escala e logística.

Empresas nesse estágio têm como principal desafio o domínio prático da operação tecnológica. Ainda que possam apresentar desempenho satisfatório em termos produtivos, sua vulnerabilidade tecnológica é elevada, o que as torna dependentes de fornecedores externos e limitadas em termos de diferenciação de produto ou processo.

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2. Capacidade de Melhoria

Ao avançar para este estágio, a empresa começa a desenvolver competências internas para realizar modificações incrementais em seus processos e produtos. Essas melhorias geralmente derivam da observação sistemática da operação e do acúmulo de conhecimento tácito, adquirido muitas vezes em experiências realizadas com base no processo tentativa-erro. Trata-se de um passo relevante, pois exige o início da internalização do conhecimento tecnológico.

Nesse nível, a inovação ainda é predominantemente reativa, respondendo a exigências de mercado ou falhas operacionais. No entanto, a empresa passa a criar seus primeiros arranjos organizacionais voltados ao aprendizado técnico, investindo em treinamento de pessoal, estruturação de processos de engenharia de produto e, eventualmente, adaptação de equipamentos.

3. Capacidade de Desenvolvimento

Este é um ponto de inflexão na trajetória tecnológica. A empresa torna-se capaz de conceber soluções tecnológicas próprias, desenvolver produtos novos para o mercado local e adaptar tecnologias com base em conhecimento técnico consolidado. Há, aqui, o florescimento de atividades estruturadas de P&D, a formação de times técnicos multidisciplinares e a aplicação sistemática de métodos de desenvolvimento experimental.

Empresas nesse estágio já dominam não apenas o “como fazer”, mas passam a questionar o “por que fazer assim”, abrindo caminho para o refinamento de suas trajetórias tecnológicas. Ainda que seus esforços estejam, em geral, concentrados em inovações incrementais, o fato de conseguirem formular e testar hipóteses técnicas as posiciona de forma diferenciada frente a seus concorrentes locais.

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4. Capacidade de Inovação em Fronteira

O estágio mais avançado representa a plena maturidade tecnológica da empresa. Aqui, ela não apenas acompanha os líderes globais em tecnologia, como é capaz de contribuir com avanços na fronteira do conhecimento. Isso implica forte atuação em redes de inovação, colaboração com universidades e centros de pesquisa, publicações técnicas, depósitos de patentes e domínio das práticas internacionais de P&D.

Essa capacidade não se constrói de forma espontânea. É resultado de trajetória cumulativa, institucionalização de práticas inovadoras, retenção de talentos e estratégias de internacionalização tecnológica. Empresas com essa capacidade operam em mercados globais, influenciam padrões técnicos e são referências em seus setores.

Considerações Finais

A progressão entre os níveis de capacidade tecnológica não é automática nem linear. Depende de diversos fatores, como o ambiente institucional, a qualidade do capital humano, os investimentos em aprendizado e a articulação entre atores do ecossistema de inovação. Para empresas latecomers, a compreensão desses níveis oferece um mapa estratégico para planejar sua evolução tecnológica.

Importante destacar que, independentemente do estágio em que a empresa se encontre nessa trajetória — da simples operação até o desenvolvimento na fronteira do conhecimento — é possível utilizar os incentivos da Lei do Bem, desde que haja esforço sistemático para resolver problemas técnicos com hipóteses testáveis e metodologia estruturada. A legislação brasileira reconhece não apenas inovações disruptivas, mas também melhorias incrementais com incerteza tecnológica, abrindo espaço para que empresas em diferentes graus de maturidade tecnológica se beneficiem fiscalmente ao investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Consultores que atuam nesse campo devem estar atentos aos sinais de transição entre os níveis. Saber identificar quando uma empresa está pronta para deixar de apenas produzir para começar a melhorar, desenvolver ou inovar na fronteira é essencial para oferecer uma orientação estratégica precisa e eficaz.

Na eLima Recursos para Inovação, temos acompanhado de perto empresas em diferentes estágios dessa escalada tecnológica. A experiência mostra que, mesmo em contextos adversos, o avanço é possível quando há clareza estratégica, investimento em conhecimento e foco no desenvolvimento contínuo de capacidades.

Se sua empresa está refletindo sobre como evoluir tecnologicamente, entre em contato. Podemos ajudá-la a trilhar esse caminho com segurança e assertividade.

¹ FIGUEIREDO, Paulo N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. GEN | LTC, 2009.


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Edwin Lima é consultor em Recursos para Inovação (Incentivos Fiscais, Captação de Recursos e Gestão da Inovação) e atua há mais de 10 anos assessorando empresas a melhorarem seus resultados através de recursos para inovação, contemplando as áreas de incentivos fiscais para P&D (Lei do Bem, Tecnoparque Curitiba entre outros);captação de recursos para projetos (FINEP, BNDES, FAPESP entre outros) e implementação de sistema de gestão da inovação (ISO 56002).

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