O que é tecnologia? Desmistificando conceitos e corrigindo equívocos

O que é tecnologia? Desmistificando conceitos e corrigindo equívocos

Ao longo dos anos, a definição de tecnologia tem sido alvo de muitos equívocos e interpretações errôneas. Frequentemente, vemos a tecnologia sendo reduzida a máquinas sofisticadas, produtos de alta tecnologia, ou mesmo confundida com ciência aplicada. Este artigo, baseado no trabalho de Figueiredo1, tem como objetivo desmistificar esses conceitos e apresentar uma visão mais abrangente do que realmente é tecnologia.

Tecnologia não é ciência aplicada

Um equívoco comum é considerar a tecnologia como sinônimo de ciência aplicada. Historicamente, muitos avanços tecnológicos ocorreram sem o suporte direto do conhecimento científico. Por exemplo, na metalurgia, processos de fundição e forjamento de metais foram aperfeiçoados empiricamente muito antes de haver uma compreensão científica detalhada deste fenômeno. Da mesma forma, radioamadores demonstraram a eficácia das ondas curtas para transmissões sem entenderem cientificamente como funcionavam.

Na indústria eletrônica, engenheiros identificaram problemas de curtos-circuitos causados pelo crescimento de filamentos de cristais nos circuitos. Essas observações empíricas levaram os cientistas a desenvolverem uma compreensão científica e propor soluções inovadoras.

Esses exemplos mostram que a tecnologia frequentemente precede o conhecimento científico, servindo como um vasto repositório de conhecimento empírico. A ciência, por sua vez, desempenha um papel crucial em indústrias de alta tecnologia, como a defesa, onde o desenvolvimento científico e tecnológico andam de mãos dadas.

Tecnologia não é informação ou bem público

É essencial distinguir entre informação e conhecimento. Informação pode ser comercializável e representa a soma total de mensagens geradas globalmente. Já o conhecimento, crucial para a tecnologia, geralmente não é comercializável e resulta de processos de aprendizagem e experiência.

A confusão entre esses termos pode levar à falsa impressão de que o simples acesso a tecnologias disponíveis elimina a necessidade de desenvolver capacidades tecnológicas próprias. O que a empresa é capaz de aprender a partir da quantidade de mensagens (informações) disponíveis irá depender do conhecimento que já tenha acumulado.

Isso significa que usar um produto com determinada tecnologia não implica em possuir essa tecnologia, mas apenas em utilizá-la. Portanto, a necessidade de aquisição de conhecimento e desenvolvimento de capacidades tecnológicas continua sendo uma premissa fundamental para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em qualquer empresa.

 

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Tecnologia não é meramente produto

Não devemos confundir produto com tecnologia. Um produto pode conter diversas tecnologias, mas a tecnologia em si não é o produto. Por exemplo, um smartphone incorpora várias tecnologias, como reconhecimento facial e inteligência artificial, mas essas tecnologias também podem ser encontradas em outros produtos, como geladeiras e computadores. Portanto, um produto é um veículo para a tecnologia, mas não a tecnologia em si.

Esse entendimento é crucial para qualquer pessoa que tenha contato profissional com o tema. Por exemplo, a tecnologia de tela sensível ao toque está presente em diversos produtos, desde uma geladeira até um smartphone, passando por computadores e sistemas de atendimento. Um produto pode integrar uma ou mais tecnologias, mas elas são distintas do produto em si.

Tecnologia não é somente maquinaria ou equipamentos

Investir em máquinas e equipamentos não é suficiente para avançar tecnologicamente. A verdadeira inovação ocorre quando há capacidade tecnológica, conhecimento e experiência para utilizar esses recursos de forma eficaz. Por exemplo, a simples aquisição de uma impressora 3D de última geração não garante a produção de inovações sem o conhecimento prévio e a capacidade de operá-la corretamente.

É um equívoco comum entre empresários pensar que avançar tecnologicamente significa apenas investir em máquinas e equipamentos. Para ser inovadora, uma empresa precisa de capacidade tecnológica, conhecimento e experiência. Adquirir bens tecnológicos sem possuir as habilidades necessárias para utilizá-los pode resultar em subutilização dos recursos. A inovação depende do uso eficaz e criativo das tecnologias disponíveis, e isso requer pessoal especializado e capacitação contínua.

Tecnologia não é apenas o que chamamos de alta tecnologia

A tecnologia abrange uma ampla gama de aplicações, desde as mais simples até as mais sofisticadas. Ela está presente em diversos setores e não deve ser restrita apenas às áreas de alta tecnologia, como microeletrônica e pesquisa aeroespacial. Soluções tecnológicas podem ser encontradas em indústrias que utilizam intensivamente recursos naturais, em processos e produtos eletrônicos, e até em serviços intensivos em informação.

Desde a pré-história, o desenvolvimento tecnológico tem sido uma constante. O homem, com suas necessidades diárias e capacidade de raciocínio, começou a desenvolver e criar tecnologias para resolver problemas. Cada fase do desenvolvimento tecnológico precisa ser analisada no contexto em que ocorreu e com base no conhecimento preexistente. É importante não confundir tecnologia com tecnologia da informação, pois o conceito de tecnologia é muito mais amplo e pode ser empregado como um meio para o desenvolvimento tecnológico em diversas áreas.

 

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Então, o que é tecnologia?

Tecnologia é um quantum de conhecimento — uma quantidade específica de conhecimento detida por pessoas ou organizações. Esse conhecimento pode ser tácito (saberes práticos difíceis de explicar) ou codificado (formalizado em máquinas, bancos de dados e softwares).

A tecnologia é adquirida através da resolução de problemas, muitas vezes começando de maneira não codificada e sendo formalizada ao longo do tempo. Está presente no tecido organizacional, na experiência dos profissionais, nos produtos e serviços, e no capital humano.

A aquisição de conhecimento tecnológico é um processo central na engenharia e muitas vezes não é codificado inicialmente, mas pode ser formalizado e incorporado em diversas formas. O conhecimento adquirido gera uma capacidade que permite desenvolver, inovar e melhorar continuamente, criando um ciclo contínuo de avanço tecnológico.

O ciclo virtuoso de desenvolvimento tecnológico

O conhecimento tecnológico adquirido gera uma capacidade que permite desenvolver, inovar e melhorar continuamente, criando um ciclo contínuo de avanço tecnológico. Empresas que investem em capacitação contínua e atualização tecnológica são capazes de manter uma vantagem competitiva e fomentar a inovação de maneira sustentável.

Conclusão

A tecnologia não pode ser reduzida a simples definições ou elementos isolados. Ela é uma combinação complexa de conhecimentos, práticas e capacidades que se manifesta de várias formas e em diferentes contextos. Entender a verdadeira natureza da tecnologia é essencial para empresas e profissionais que desejam inovar e crescer em um mundo cada vez mais competitivo e tecnológico.

Vamos continuar explorando e desmistificando a tecnologia. Acompanhe nossos próximos posts para saber mais sobre inovação, transferência de tecnologia e as definições de descobertas e invenções.

Referência

FIGUEIREDO, Paulo N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. GEN, LTC, 2009.


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Edwin Lima é consultor em Recursos para Inovação (Incentivos Fiscais, Captação de Recursos e Gestão da Inovação) e atua há mais de 10 anos assessorando empresas a melhorarem seus resultados através de recursos para inovação, contemplando as áreas de incentivos fiscais para P&D (Lei do Bem, Tecnoparque Curitiba entre outros);captação de recursos para projetos (FINEP, BNDES, FAPESP entre outros) e implementação de sistema de gestão da inovação (ISO 56002).

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