Tecnologia não é ciência aplicada
- Análise, Gestão da Inovação, Inovação
- abril 19, 2024
Introdução
No vasto campo da inovação, é comum presumirmos que tecnologia e ciência estão intrinsecamente ligadas, com a ciência sempre liderando o caminho para a aplicação prática. No entanto, a obra “Gestão da Inovação – Conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil”, de Paulo N. Figueiredo¹, diverge dessa presunção, afirmando que tecnologia não é ciência aplicada.
Neste artigo, vamos explorar essa afirmação do autor, expondo seus argumentos e refletindo sobre eles. Ao examinar os exemplos apresentados, esperamos iluminar o entendimento sobre a relação entre ciência e tecnologia, expandindo nossa compreensão sobre o processo de inovação e seus impactos no campo do conhecimento.
Desafiando um paradigma sobre a relação entre ciência e tecnologia
Figueiredo, renomado autor no campo da inovação, nos convida a questionar a noção convencional de que tecnologia é simplesmente ciência aplicada. Ao fazê-lo, ele nos leva a uma jornada através da história, destacando como o desenvolvimento tecnológico muitas vezes precedeu o conhecimento científico. Desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, inúmeros exemplos ilustram essa dinâmica.
Conheça as nossas soluções para Inovação
O desenvolvimento tecnológico como pioneiro no processo de inovação
Um dos pontos centrais levantados por Figueiredo é que, ao longo da história, muitas descobertas e inovações tecnológicas ocorreram independentemente do conhecimento científico formal, através de trabalhos realizados dentro das universidades por pesquisadores de carreira.
Da metalurgia à indústria eletrônica, há inúmeros exemplos de engenheiros e artesãos resolvendo problemas práticos sem a necessidade de uma compreensão científica profunda dos fenômenos existentes. Esses pioneiros da tecnologia foram impulsionados pela experimentação, pelo teste e pelo erro, moldando o mundo ao seu redor com base em observações empíricas.
Tecnologia como geradora de conhecimento empírico
Um aspecto interessante destacado por Figueiredo é o papel da tecnologia como um repositório de conhecimento empírico. Muitas vezes, são os engenheiros, ou aqueles que atuam na linha de frente da inovação, que descobrem soluções para problemas complexos.
Essas soluções, embora não fundamentadas em teorias científicas estabelecidas, podem ser extremamente eficazes na resolução de desafios práticos. Posteriormente, o conhecimento gerado pela prática tecnológica é analisado e refinado pelos cientistas, contribuindo para o avanço do entendimento científico e capaz de gerar mais inovações.
Acompanhe nosso conteúdo também no Linkedin
Exemplos históricos
Um dos exemplos mais emblemáticos apresentados pelo autor é o dos radioamadores que desafiaram as limitações das ondas curtas. Na época, os radioamadores estavam restritos a usar apenas sinais de ondas curtas, pois acreditava-se que nada significativo poderia ser alcançado com esse tipo de onda. No entanto, esses entusiastas, sem o respaldo do conhecimento científico formal, demonstraram que transmissões eficazes eram possíveis dentro do espectro das ondas curtas. Esse feito não apenas surpreendeu a comunidade científica, que passou a se dedicar ao tema com uma nova abordagem.
Esse episódio não é único. Na indústria eletrônica, por exemplo, engenheiros da década de 1940 identificaram um problema recorrente de curtos-circuitos em placas e circuitos eletrônicos. Ao investigarem mais a fundo, descobriram que os curtos-circuitos eram causados pelo crescimento de filamentos de cristais. Essa descoberta, realizada pelos engenheiros, precedeu qualquer entendimento científico formal do fenômeno e foi fundamental para o avanço subsequente na indústria eletrônica.
Um caso semelhante ocorreu na metalurgia durante o século XIX. Os metalúrgicos da época enfrentavam o desafio de compreender por que o metal se tornava mais duro e frágil com o passar do tempo. Engenheiros resolveram esse problema desenvolvendo uma liga superior conhecida como duralumínio, que solucionou o problema prático sem depender de um embasamento científico prévio.
Esses exemplos destacam a importância da prática tecnológica como catalisadora da inovação, muitas vezes antecipando e até mesmo superando o conhecimento científico estabelecido. A história nos lembra que a experimentação e a observação empírica são fundamentais para impulsionar o progresso tecnológico, e que a ciência frequentemente segue os passos da prática tecnológica na busca por entendimento de tais fenômenos.
Implicações para a prática da inovação
Ao desafiar a noção tradicional de que tecnologia é simplesmente ciência aplicada, Figueiredo nos convida a repensar nossas abordagens para a inovação. Reconhecer a autonomia da tecnologia como geradora de conhecimento prático nos permite explorar novos caminhos na busca por soluções inovadoras. Ao mesmo tempo, isso não diminui a importância da ciência, mas destaca a complementaridade entre ciência e tecnologia no processo de inovação.
Assista à versão em vídeo desse artigo:
Conclusão
À medida que exploramos as páginas desta obra, passamos a reconsiderar nossa compreensão sobre a relação entre tecnologia e ciência. A afirmação de que “Tecnologia não é ciência aplicada” nos leva a reconhecer a relativa autonomia da tecnologia como geradora de conhecimento empírico, abrindo novas possibilidades para que a ciência para se debruçar sobre tais fatos e, partir disso, gerar mais conhecimento.
¹ FIGUEIREDO, Paulo N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. GEN, LTC, 2009.
Entre em contato com edwin@elima-assessoria.com.br ou pelo WhatsApp (11) 99244-0130 e descubra como podemos contribuir para otimizar seus investimentos em inovação.
Deixe seu comentário