Tipos e níveis de inovação

Tipos e níveis de inovação

Tipos e níveis de inovação1 | Introdução

Numa realidade em que há uma constante evolução tecnológica, cada novo desenvolvimento realizado leva a mudanças profundas não apenas em produtos específicos, mas em como interagimos com o mundo ao nosso redor. Desde a transformação de simples dispositivos em complexas ferramentas de comunicação até a reinvenção dos processos de produção e reciclagem, a inovação continua a ser o motor que impulsiona a melhoria contínua em diversas indústrias. Este artigo, que se baseia e transcreve trechos da obra de Paulo Figueiredo sobre Gestão da Inovação, apresenta os tipos de inovação e quais delas foram mais significativas nas últimas décadas, destacando como elas moldaram o ambiente tecnológico e impactaram a sociedade de maneiras antes inimagináveis.

Inovações radicais

São inovações que estabelecem um conceito novo para o mercado em nível global através da combinação de componentes e elementos inéditos, geralmente a partir da realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento. São inovações que tendem para a criação de novos mercados e indústrias.

  • Aparelho de telefone celular como terminal de comunicação e processamento de dados: Além da função original do telefone celular de dar mobilidade ao usuário na comunicação por voz, o sistema de telefonia móvel passou a permitir que o aparelho passasse a ter acesso a redes de comunicação de dados para leitura de informações, gravação de voz e funções de suporte como agenda, “bloco de notas”, calculadora e jogos, além de capacidade de executar aplicativos computacionais. Desta forma, de um simples telefone, o aparelho se tornou para seus usuários um complexo terminal de comunicação e processamento de dados.
  • Walkman da Sony: O projeto do walkman teve como objetivo um pequeno gravador portátil monoral desenvolvido para utilizações jornalísticas. De início, devido às suas reduzidas dimensões, não foi possível incorporar recursos para som estereofônico no aparelho. A seguir, foi incorporado um leitor de cassetes sem capacidade de gravação com fones portáteis, dando origem a um novo produto, que permitia a uma só pessoa ouvir som de alta qualidade. Apesar da oposição de alguns departamentos da empresa, que consideravam a ausência da capacidade de gravação uma grave insuficiência, os dois fundadores da Sony decidiram avançar com um projeto para o desenvolvimento do walkman. De início o produto foi direcionado ao mercado de jovens e adolescentes, o que não rendeu grandes resultados. Foi identificado então que quem estava comprando os aparelhos eram os yuppies (young urban professional), pois, além de grandes consumidores de cassetes, seu elevado poder de compra permitia pagar um preço alto para possuir a mais recente tecnologia de som.
  • Interface computacional Windows: O início da interação humano computador está intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento de novas tecnologias de interfaces para computadores e a história da interface gráfica. A tecnologia que empregava janelas e ícones para representar elementos no monitor do computador com um dispositivo chamado “mouse” teve seu início com o conceito de metáfora, criando a relação da tela com uma mesa de trabalho em uma interface de computador. A partir deste ponto se estabelecia o design de HCI (Human Computer Interface), no qual que levava em consideração fatores humanos, neurológicos e imaginações de pessoas poderiam abandonar seus fichários e pilhas de papel e transferir tudo isso para o mundo digital. O primeiro computador pessoal a utilizar a tecnologia baseada no conceito de janelas e ícones foi o computador Lisa, da empresa Apple Computing. Por ser na época um equipamento caro para o usuário doméstico, não se tornou um sucesso comercial. Foi somente com a introdução no mercado do sistema Microsoft Windows, desenvolvido para máquinas IBM-PC, também utilizando o conceito de interface gráfica, que se disseminou a então denominada tecnologia GUI (Graphical User Interface).
  • Sistema de Produção Just-in-Time (JIT): O sistema denominado just in time (JIT) surgiu no Japão em meados da década de 1970, sendo sua ideia básica e seu desenvolvimento creditados à Toyota Motor Company, a qual buscava um sistema de administração que pudesse coordenar a produção com a demanda específica de diferentes modelos e cores de veículos com o mínimo de atraso. O sistema JIT tem como objetivo fundamental a melhoria contínua do processo produtivo. A perseguição destes objetivos dá-se através de um mecanismo de redução de estoques, os quais buscam minimizar problemas.
  • Processo de reciclagem da embalagem de leite longa vida: A separação do alumínio e do plástico da caixinha longa vida é o grande nó do reciclagem. A Tetra Pak uniu a Alcoa, a Klabin e a TSL para descobrir uma maneira de resolver o problema. Depois de sete anos de pesquisas e investimentos de R$ 12 milhões, a Tetra Pak desenvolveu uma tecnologia inédita no mundo para a reciclagem total da embalagem. Trata-se de um equipamento que gera calor de até 15 mil graus Celsius (mais quente que a superfície do Sol) e consegue isolar as moléculas de alumínio das de plástico. Como o processo é feito sem oxigênio, o plástico não queima e sai do conjunto de tubulações na forma de parafina líquida, pronta para ser revendida à indústria. O alumínio derrete e é moldado em lingotes de 25 quilos, que seguem direto para as linhas de produção da Alcoa, líder do setor. As emissões de gases são praticamente nulas.
  • Post-it: Em 1977, o cientista da 3M Art Fry integrava o coral da igreja e usava marcadores de páginas em seu livro de canto. Toda vez que abria o livro, sempre caía algum marcador. Art Fry deparou-se com uma experiência, começou a desenvolver tiras de papel cobertas com esse adesivo de baixo tato para tentar resolver seu problema com o livro dos cantos. Art Fry acabou inventando muito mais que um marcador de livros — ele inventou um novo conceito de bloco de recados, o Post-it.

A figura a seguir apresenta a evolução ao longo de tempo de algumas das principais inovações radicais.

Linha do tempo mostrando a evolução de algumas das principais inovações radicais

eLima Assessoria – Evolução ao longo de tempo de algumas das principais inovações radicais

 

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Inovações de ruptura

Envolvem o redesenho no intuito de se obter a simplificação e diminuição dos custos de produtos e serviços existentes, bem como a abertura de novos segmentos ou nichos de mercado. Com isso, as inovações de ruptura contribuem para a popularização e democratização de certas inovações. Um dos exemplos mais conhecidos, como mencionado por Clayton Christensen, refere-se à enorme popularização dos computadores: dos mainframes, caros e inacessíveis nas décadas de 1950 e 1960 aos desktops das décadas 1980 e 1990 e, posteriormente, aos laptops, notebooks e subsequentemente aos smartphones e tablets. Um conceito similar ao de inovação de ruptura diz respeito à inovação de custo ou frugal. Refere-se ao redesenho de produtos e serviços no intuito de barateamento de seu preço para possibilitar seu consumo pela população de baixa renda. Um dos exemplos mais conhecidos é o NanoCar, da Tata Motors, da Índia, e o eletrocardiograma portátil, criado pela GE da Índia.

Inovações arquiteturais

Baseiam-se em alterações nas relações entre os elementos da tecnologia, sem que componentes individuais sejam modificados.

  • Aparelhos de telefone celulares menores e mais leves: Se considerarmos os primeiros modelos comerciais de aparelhos celulares, é possível constatar a grande evolução em termos de design que esse produto sofreu. Mesmo quando não há grandes alterações de funcionalidade e recursos, os modelos têm-se tornado cada vez mais leves e finos, permitindo transporte e uso mais confortáveis para o usuário.
  • Motor de automóveis bicombustível: Desde o final dos anos 1980, com o declínio do álcool hidratado como opção de combustível e a instabilidade no mercado de petróleo, a indústria automotiva, especialmente os fornecedores de sistemas eletrônicos para controle do motor, buscava uma alternativa à utilização da gasolina como combustível, aliando a experiência brasileira com o uso do álcool à necessidade de redução de emissão de poluentes. A empresa Magneti Marelli desenvolveu um sistema de injeção bicombustível baseado em software, com custo competitivo. A Volkswagen adotou essa solução, e por causa da experiência com motores a álcool, não foram muito significativas as modificações necessárias para o motor tornar-se bicombustível.

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Inovações modulares

São realizadas através de alterações em componentes específicos de produtos, processos de produção ou processos organizacionais ou serviços, sem a alteração do desenho ou da relação entre os componentes existentes.

  • Entrada para conexão USB em computadores, em substituição aos antigos disquetes.
  • Injeção eletrônica de combustível, que substituiu o carburador.

Inovações incrementais avançadas

Introdução de novos produtos, processos e/ou sistemas de equipamentos novos, em certo grau, para o mercado local da empresa, também sem alteração das relações entre os elementos da tecnologia.

  • Lâmpadas do tipo LED: Com o objetivo de oferecer produtos visando a economia de energia, as empresas fabricantes de lâmpadas desenvolveram as lâmpadas fluorescentes compactas, que consomem 75% menos energia que as lâmpadas incandescentes. No entanto, era necessário pensar em produtos que fossem ambientalmente corretos, considerando que as lâmpadas fluorescentes contêm uma pequena quantidade de mercúrio. Neste sentido, tem sido realizado um significativo investimento no desenvolvimento de lâmpadas do tipo LED (Light Emission Diode). O LED, uma forma de semicondutor, gera luz quando uma corrente elétrica passa por materiais positivos e negativos. Diferentes cores e maior eficiência são criadas por meio de alterações na composição do material. Tipicamente, uma lâmpada fluorescente compacta usa cerca de 20% da energia necessária para que uma lâmpada comum gere o mesmo volume de luz. Hoje, os LEDs usam cerca de 15%.
  • Post-it para computadores: Este produto simples e prático, adotado em todo o mundo, ganhou uma versão utilizada em computadores, que simula o formato e o uso das etiquetas que ficam disponíveis na área de trabalho da interface de computadores baseados nas plataformas Windows ou Macintosh.

Inovações incrementais intermediárias

São uma novidade para a empresa e resultado de pequenas melhorias nos componentes e elementos individuais da tecnologia existente, também sem mudanças nas relações entre os componentes.

  • Embalagens de papel para alimentos frios ou congelados: Visando oferecer um tipo de embalagem ao mercado de produtos frigorificados, a empresa Klabin Papéis e Embalagens desenvolveu um cartão que foi capaz de substituir as tradicionais embalagens que contêm uma camada interna composta de polietileno, um plástico não biodegradável, dificultando o processo de reciclagem. O cartão, por meio de uma resina de látex à base de água, é capaz de proporcionar uma barreira à umidade, além de facilitar o processo de reciclagem. Por suas características, é possível desenvolver embalagens para produtos alimentícios com contato direto ou indireto.
  • Prestação de serviços adicionais para telefonia celular: No processo de evolução dos serviços em telefonia celular, destacam-se a prestação do serviço fora da área de cobertura original do usuário (roaming), serviços de mensagem instantânea, identificação de chamadas, acesso à Internet.

Inovações incrementais básicas

Também são novidades para a empresa, consistindo em pequenas alterações em processos de produção, produtos e/ou equipamentos a partir da imitação ou cópia de tecnologias preexistentes.

  • Mouse para computadores: Inicialmente o dispositivo “mouse” foi projetado para ser ligado por um cabo ao microcomputador e o estabelecimento do posicionamento do cursor pela rolagem mecânica de dois eixos internos acionados por uma bola. Posteriormente, o dispositivo evoluiu para o acionamento óptico para o posicionamento do cursor e atualmente está disponível com uma interface sem fio.

1 FIGUEIREDO, Paulo N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. GEN, LTC, 2009.


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Edwin Lima é consultor em Recursos para Inovação (Incentivos Fiscais, Captação de Recursos e Gestão da Inovação) e atua há mais de 10 anos assessorando empresas a melhorarem seus resultados através de recursos para inovação, contemplando as áreas de incentivos fiscais para P&D (Lei do Bem, Tecnoparque Curitiba entre outros);captação de recursos para projetos (FINEP, BNDES, FAPESP entre outros) e implementação de sistema de gestão da inovação (ISO 56002).

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